Editorial | Blog Marcelo Diniz
A assinatura dos 3º e 4º termos aditivos do acordo entre o Governo de Pernambuco e o Exército Brasileiro para a instalação da Escola de Sargentos, anunciada pela governadora Raquel Lyra na noite desta quarta-feira (12), confirma um rumo que tem sido trilhado com pouca escuta e muita pressa. Com pompa e presença de autoridades militares, o Estado avança num projeto que desconsidera apelos ambientais, sociais e jurídicos cada vez mais evidentes.
O compromisso firmado inclui obras de infraestrutura viária – como a restauração da PE-27 (Estrada de Aldeia) – e construção de prédios residenciais para militares, com contrapartidas estaduais que somam mais de R$ 112 milhões. Raquel Lyra classificou a instalação da escola como “irreversível”. Para ela, trata-se de uma prioridade estratégica. Mas pergunto: a que custo?
Falo como jornalista, mas também como cidadão atento às vozes de quem vive e luta pela Mata de Aldeia. Desde o início, o Fórum Socioambiental de Aldeia, junto a uma ampla frente de ambientalistas, lideranças comunitárias e instituições acadêmicas, vem alertando: o problema não é a escola em si, mas o local escolhido. A APA Aldeia-Beberibe é um dos últimos grandes fragmentos de Mata Atlântica no Norte-Nordeste. Uma área de proteção reconhecida legalmente por sua biodiversidade, pelas nascentes de rios que abastecem mais de 1 milhão de pessoas e por seu valor sociocultural inestimável.
O Exército prometeu reduzir o desmatamento de 188 para 94 hectares. Mas como justificar a derrubada de cerca de 200 mil árvores em plena emergência climática? Como aceitar a supressão de um corredor ecológico que garante o fluxo de espécies ameaçadas? Como ignorar o fato de que há terrenos alternativos já degradados fora da APA, prontos para receber a escola sem agredir a floresta?
A resposta institucional tem sido ambígua. Enquanto o IBAMA exige estudo de impacto ambiental, o Exército tenta se escorar em pareceres jurídicos da AGU para fugir da legislação. Enquanto o Ministério Público luta para preservar o Corredor Ecológico, decisões judiciais controversas desmontam liminares em nome de “interesses superiores”. Não faltam exemplos de como o poder tem se movido para atropelar o processo.
Raquel Lyra poderia entrar para a história como a gestora que escutou sua população e defendeu seu patrimônio natural. Mas, ao ignorar mais uma vez a sociedade civil (como tem feito com os professores e estudantes, cedendo apenas após muita pressão) e os alertas técnicos, opta por um caminho de conflito. A assinatura desses termos aditivos não é apenas um avanço administrativo. É também um retrocesso ambiental.
Ainda há tempo de mudar a rota. A sociedade já mostrou que não está contra a Escola de Sargentos – está contra o desmatamento. Contra o modelo de progresso que sacrifica florestas, águas e comunidades em nome de promessas vagas. Se o governo quer, de fato, ser exemplo de desenvolvimento sustentável, que comece por respeitar a Mata de Aldeia.