Militantes de cinco partidos e representantes de movimentos sociais de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, reuniram-se na tarde da última quinta-feira (11), véspera de feriado, para articular uma frente de resistência ao projeto de resolução que pretende conceder o título de cidadão camaragibense ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
O encontro, realizado de forma hibrida na sede da ONG Mulheres Guerreiras de Camaragibe, reuniu mais de 30 dirigentes partidários e ativistas locais. Eles classificaram a proposta como inoportuna e vergonhosa, alegando que ela não traz qualquer benefício prático à cidade e representa uma tentativa de criar clima favorável à anistia de Bolsonaro e de outros envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, pressionando o Judiciário e o Legislativo Federal.
Bolsonaro está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o condenou por abuso de poder econômico. A Corte entendeu que o ex-presidente utilizou a estrutura do governo para promover sua candidatura à reeleição durante uma reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada, em julho de 2022. No encontro, transmitido pela TV Brasil, Bolsonaro atacou o sistema eleitoral sem apresentar provas, o que foi considerado uso indevido de bens públicos e tentativa de influenciar o processo eleitoral. Hoje, o ex-presidente enfrenta acusações ainda mais graves, desde que foram descobertos planos para assassinar o então Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, com a possibilidade dessa lista aumentar, incluindo qualquer pessoa que tentasse aplicar a legalidade durante a tentativa de tomada de poder.
Durante a reunião, os participantes defenderam que a proposta em tramitação na Câmara de Vereadores não apenas desrespeita a história da cidade, como também agride os valores democráticos. A avaliação predominante foi a de que, embora a provocação da extrema-direita tenha motivado o encontro, o momento deve marcar o início de uma articulação política mais ampla e permanente entre forças do campo democrático em Camaragibe.
Ao fim do evento, foi decidida a realização de uma manifestação pública em frente à Câmara de Vereadores da cidade, que discutirá o projeto na próxima terça-feira (22). A concentração do ato está marcada para as 07:30h, no local. Ao final também formada uma comissão com representantes dos cinco partidos presentes. O grupo será responsável por dialogar com os vereadores e entregar um documento formal solicitando a rejeição do projeto.
Entre os argumentos da frente estão a falta de vínculos entre Bolsonaro e a cidade e o entendimento de que homenagear um político condenado por uso indevido da máquina pública e em vias de ser condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito é incompatível com o papel da Câmara Municipal.